Legenda: Primeiro contato do Gcb Veredão com o Mestre Kim de Fortaleza. Evento de comemoração dos 30 anos do Grupo Capoeira Brasil.
Para analisar a capoeira no município de Casa Nova, faz-se necessário entrelaçar conceitos históricos, geográficos, socioculturais e educacionais. Pertencente ao Estado da Bahia, Casa Nova é um exemplo de omissão aos valores intrínsecos à capoeira. O estado é dono de uma diversidade expressiva de manifestações culturais; e a capoeira, como uma arte marcial criada por negros, com contribuições fundamentais dos saudosos Manoel dos Reis Machado – O Mestre Bimba – e de Vicente Ferreira Pastinha – O Mestre Pastinha – ambos baianos, tornou-se um dos principais meios de propagação da Língua Portuguesa e da cultura brasileira pelo mundo. São mais de 150 países que praticam a capoeira, valorizando a arte brasileira e dando continuidade através de novos professores e mestres que foram formados por mestres brasileiros que saíram do Brasil por falta de investimento e de apoio.
Essa breve contextualização é para enfatizar a importância que a modalidade apresenta no âmbito sociocultural. Em Casa Nova, a capoeira resiste por meio do trabalho independente de professores, alunos graduados e simpatizantes que disponibilizam recursos dentro de suas possibilidades. Mas, a questão aqui, é saber o porquê que a capoeira não tem espaço e não recebe investimentos provenientes do município. Por que a ausência da modalidade nos ambientes escolares? Por que os senhores vereadores não levam pautas referentes ao incentivo à aprendizagem e à prática da capoeira para a Câmara legislativa?
A capoeira, além de trabalhar as habilidades físico-motora, é um instrumento histórico, cultural e filosófico. Atributos que a definem como a arte marcial brasileira e que tem a Bahia como berço; o mesmo Estado de Mestre Bimba, Mestre Pastinha, Besouro, dentre outras personalidades que compõem a base da cultura baiana e das raízes afrodescendentes.
Em 2019, na comunidade de Veredão dos Macenas, Zona Rural, formou-se um grupo de 20 alunos (a maioria formada por crianças e adolescentes). O trabalho realizado pelo Corda Laranja, Lokko Gcb, aluno do Professor Canibal Gcb- Casa Nova, sob supervisão do Mestre Kim de Fortaleza, do Grupo Capoeira Brasil, gerou bons resultados. Algumas apresentações foram realizadas nas escolas das comunidades vizinhas, mas, o que chamou atenção, foi o total desinteresse do poder público municipal, através dos seus vereadores, líderes comunitários e executivo. O grupo sempre buscou apoio, patrocínios, porém não recebeu retorno, nem mesmo visitas dos representantes locais e municipais. Aqui, trata-se de um projeto que envolve a formação cultural das crianças daquela comunidade, uma forma alternativa, porém com eficácia no processo de construção de valores e de realização educativa.
Na sede, incluindo Santana do Sobrado, a situação é semelhante Não há projetos que visem o apoio aos praticantes e os professores e alunos graduados se sentem obrigados a migrarem para outras cidades. Os persistentes lutam com suas próprias “garras” para não deixarem o legado “ir por água abaixo”.
Recentemente, Tivemos as eleições municipais com alguns vitoriosos e a continuidade da atual gestão municipal. Diante disso, elucido que este texto é uma crítica e um repúdio à vergonhosa desatenção dada à capoeira e um pedido de apoio para os próximos quatro anos. Cultura é produzida pelo povo, cabe ao poder público proporcionar que as manifestações sejam desenvolvidas. Não basta olhar exclusivamente para o futebol, como se este fosse a única manifestação esportiva/cultural do município. Esse ato populista impede que haja o fortalecimento sociocultural da região.
Para concluir, na semana passada, foi lembrado o Dia da Consciência Negra, e o que temos, dentro de um repertório de ações e práticas excludentes, é a desvalorização da cultura e da arte marcial brasileira, cujas raízes e bases são negras, assim como toda a riqueza produzida neste país.
Por
Preslei Andrade – Professor de Língua Portuguesa e praticante de capoeira
Eu fiz capoeira aí em Casa Nova, na minha adolescência, com o mestre Gafanhoto. Éramos alunos e pagávamos pelas aulas mas não foi possível ele permanecer na cidade porque a renda com os alunos não era suficiente para ele se manter. Lembro que ele chegou a morar na casa de um aluno .
Lamentavelmente, o discurso do governante dos próximos 4 anos é de uma política excludente mesmo . Boa sorte para vocês !
Pollyanna Passos Santos Remigio
CurtirCurtir
Concordo plenamente com essa maravilha reflexão, só acho que essa gestão não vai fazer nada pela capoeira, ela continuará esquecida…
CurtirCurtir
Creio que ainda existe um grupo de capoeiristas que resistem ao abandomo do poder público. Casa Nova do já teve: já tem grupo de teatro, grupo de quadrilhas que disputavam concurso entre outro Estado. Concordo com o Rafael que essa gestão na fará para apoiar nem a capoeira nem as outras manifestações culturais.
CurtirCurtir