Cinco anos de luta e dedicação há uma causa humana, social e esportiva. Essa é trajetória do projeto social “Mais Jiu-Jitsu” elaborado pelo jovem Dan Cauê no município de Casa Nova que fica localizada na região Norte do Estado da Bahia. Membro da equipe De La Riva do Professor Mauricio Guerra, Dan começou a desenvolver um projeto social para crianças de adolescentes na sua cidade natal, já citada a cima.
O projeto surgiu do desejo de somar valores sociais, culturais e psicológicos nas crianças e adolescentes, que muitas vezes poderiam trilhar caminhos não saudáveis devido à falta de oportunidades e pela exclusão social. O projeto não visa retorno financeiro, a sua intenção é transformar vidas e oportunizar alternativas de inserção social. Ele teve início no ano de 2015 com apenas 3 alunos e com nove meses de trabalho já contava com 30 alunos, que se reunião aos sábados e domingos na praça principal do município. Dan é faixa marrom e já pratica o Jiu-Jitsu há 8 anos e desenvolve o projeto com muitas dificuldades, pois trabalha e habita em outra cidade e todos os fins de semana se dispõem a vir tocar seu projeto social a diante. Atualmente ele conta com o apoio da Academia Corpore Sano que o cede um espaço nos dias de treino, contudo nem sempre foi assim. E mesmo contando com esse apoio mínimo o projeto encontra-se parado por conta da Pandemia.
Diante de uma história como essa é que o site movimentacasanova.com entrevista o Mestre Dan Cauê da Rocha Castro idealizador do Projeto Social Mais Jiu-Jitsu.
Qual a intenção em começar o projeto em sua cidade natal Casa Nova?
O projeto surgiu com a intenção de oportunizar aos jovens e crianças de Casa Nova uma opção para não se jogar, não se jogar no mundo das drogas, criminalidade, enfim promover integração social através do esporte.
O projeto teve algum apoio no início?
Não teve “apoio em época alguma”. Foi um surgimento meio orgânico. Foi acontecendo. Depois de alguns momentos alguns amigos da equipe ajudaram, e em outros fizemos campanhas, como por exemplo, para comprar e adquirir o tatame. E recentemente Joseph e Rebeca da Academia Corpore Sano nos cede uma área para termos nossas aulas, só que com a Pandemia de Covid-19 não temos atividades desde março desse ano.
Quantos jovens e crianças estavam frequentando o projeto?
Em torno de 50.
Tem alguma previsão de retorno?
No momento não. Para a gente puder retornar, a gente precisaria de uma demanda maior de tempo bem maior, por exemplo, eu dou uma aula no sábado e duas no domingo, isso quando estava tudo normal. Aí para não aglomerar eu teria que dar cinco aulas no sábado e outras cinco no domingo ou escalonar essas aulas durante a semana, porque pelo espaço que nós temos a gente entende que teria que ter aulas para um público máximo de 8 pessoas e tal, e com uma série de medidas. Só que isso além de demandar custo, também demandaria tempo. E como eu não tenho que me ajude e como eu tenho que trabalhar, porque eu não tenho nenhuma renda disso, aí fica complicado. Nesse caso eu precisaria de um suporte para retornar, e com não temos essa estrutura, infelizmente não tem previsão de retorno. E eu não posso parar de trabalhar para me dedicar exclusivamente ao projeto, pois é do meu emprego que eu sobrevivo.
As crianças e jovens que participam do projeto apresentaram melhora no desempenho e ações escolares?
Sim. Essa é uma das características mais latentes e mais visíveis. Como não cobramos para participar das crianças e dos jovens, que tem idade entre 07 e 17 anos. Exigimos que eles tenham um rendimento escolar acima da média. A média que o projeto exige é que eles trabalhem, que eles obtenham uma média em torno de sete pelo menos, para poder está treinando normalmente. Não que eu vá punir ninguém, mas essa exigência é para que eles se esforcem na escola e melhorem seu desempenho. E notamos que além das notas o comportamento e o desempenho de todos melhoraram, segundo relatos dos professores deles e que entram em contato conosco.
Não só por causa dessas exigências, mas acho que até o fato da arte marcial seu bojo doutrinário vai favorecendo. Principalmente isso e depois a cobrança. Eu acho que mais ou menos por aí. E aí sim eles melhoram muito, acho que o entendimento de respeito, disciplina, foco, concentração tudo isso acaba sendo maximizado com a prática do esporte. Sem falar que às vezes eles tem alguém para ser, … um referencial para eles. Alguém que estude, alguém que busca e alguém que os orienta a fazer isso. Que às vezes eles não tem esse tipo de direcionamento dentro de casa. Às vezes eles são empurrados para a escola mais não tem nenhum referencial. É meio que falta um norte bem claro. E no projeto tentamos passar as referências que falta em casa.
Além da falta de apoio, qual a maior dificuldade do projeto antes da pandemia?
Rapaz! É complicado falar das dificuldades. Na realidade eu faço de coração, sem nenhum objetivo pessoal em si. Por causa disso, acho que, minimiza muito os impactos das dificuldades, … mas assim, eu sinto falta de poder dar para eles uma demanda maior de treino. É muito pouco, é muito pouco essas duas vezes por semana e ainda mais no fim de semana entendeu. O ideal que isso pudesse ser durante a semana, em um contra horário da escola, algo tipo à noite ou em um horário oportuno para todos, mas por hora eu não tenho como deixar de morar em Juazeiro. É, enfim! Acho que seria mais isso, porque me incomoda muito a distância de tempo entre uma aula e outra, que nesse caso é de sete dias. A gente se ver em um sábado e passa até o outro sábado para se ver novamente. É um espaço ruim, e o ideal que fosse dia sim dia não pelo menos tipo, terça, quinta e sábado ou segunda, quarta e sexta. Acho que segunda, quarta e sexta seria uma boa formatação. Porque tendo mais dias eu poderia melhorar a qualidade das aulas, pois são 50 pessoas podendo chegar a 70 pessoas a depender do período do ano fica inviável por conta do espaço e horário. E nesse caso perde muito em qualidade, porém não vamos desistir.
Diante do que já foi vivenciado, o projeto atingiu seu objetivo? E qual a satisfação em fazer parte dele?
Sim. Eu posso dizer que sim. Independente de minha presença ou não, o jiu-jitsu está estabelecido na cidade. Embora ainda não tenha ninguém mais graduado que eu, mas, enfim, o jiu-jitsu já está enraizado aqui. Já tem muita gente boa, já tem gente que competiu, que ganhou título, que vive o lido style do esporte. Então, isso é um ponto significante. Outra coisa é o que eu tinha na minha cabeça. Se uma vida dessas pudesse ser transformada, pudesse ser dada uma direção uma pessoa dessa mudar de vida de alguma maneira ou se encaminhar para essa mudança, eu iria julgar que esse objetivo foi alcançado. Sim! Tem muita gente hoje fazendo faculdade, tem gente que mudou o entendimento enquanto a estudo e trabalho, então eu posso falar que sim. Eu já até falei para uns colegas lá, os mais velhos e tem umas pessoas que já são adultas eu digo, cara, eu hoje se morresse, se eu morresse hoje, eu tinha convicção que, de alguma forma, eu ia ser lembrado como o cara que trouxe o esporte para o município. E tá ai. Eu acho que hoje, Dan não existe mais. Eu acho que os caras iam continuar a caminhada e isso não acaba mais. Então eu posso dizer que sim, alcançamos os objetivos apesar das dificuldades.
E antes da pandemia eles também se destacavam em competições?
Sim. Temos uma galera que compete, e compete forte. Todas as vezes que a gente conseguiu viajar para competir nós voltamos com medalha. De forma tal que quase todos conseguiram medalhar. Com a parada, o trabalho vai ter que retomar do início. Vamos está no prejuízo, porque algumas pessoas já retornaram e nós não temos previsão do retorno. E quando voltarmos vamos cair pra dentro, porque temos uma galera boa, e eu creio que se tivesse mais estrutura poderíamos ter gente se destacando em nível nacional.
Nós do site movimentacasanova.com agradecemos a entrevista. Faça suas considerações finais.
Só agradecer. Agradecer a vocês pela atenção, por perceber que a gente está aqui há algum tempo na cidade fazendo esse trabalho, que para muitos é, de alguma maneira, imperceptível, mas para nós é muito grato quando alguém percebe que estamos trabalhando em prol do município. Eu creio muito nisso, que cada um existe para alguma razão. E se cada um entender seu proposito na vida e se intencionar a fazer isso, eu acho que o mundo funciona um pouquinho melhor. Eu acho que essa é a nossa chamada, e por isso a gente está aí. Apesar das dificuldades vamos continuar, mas sempre que alguém lembra da gente e reconhece nosso esforço, ficamos muito felizes. Renova os ânimos e a palavra é gratidão.